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É falso que 15 médicos 'que estudavam a pílula do câncer' morreram em avião da VoePass
12.08.2024 - 19h14
João Pessoa - PB
Circula nas redes sociais o boato de que 15 médicos oncologistas, que estariam a caminho de um congresso em São Paulo, morreram no acidente aéreo em Vinhedo (SP), na sexta-feira (9). Segundo a publicação, esses médicos faziam parte da equipe de especialistas pioneiros em estudos sobre a fosfoetanolamina, a 'pílula do câncer'. É falso.
Por WhatsApp, leitores da Lupa sugeriram que esse conteúdo fosse analisado. Confira a seguir o trabalho de verificação​:
15 médicos oncologistas que iriam participar do Congresso Brasileiro de Oncologia em SP estavam entre os passageiros do avião que caiu em Vinhedo – SP. Os médicos faziam parte de uma equipe de cientistas pioneiros no Brasil nos estudos científicos e alternativos do combate e cura do câncer.
– Legenda de post que circula no WhatsApp
Falso
O Conselho Regional de Medicina do Paraná (CRM-PR) divulgou uma nota nesta segunda-feira (12) informando que, entre as 62 pessoas que estavam a bordo do avião da VoePass que caiu em Vinhedo (SP) na sexta-feira (9), foram identificados quatro — e não quinze — médicos: duas residentes em oncologia, um radiologista e uma pediatra especialista em alergias. Os nomes confirmados pelo CRM-PR são: Arianne Albuquerque Estevan Risso, José Roberto Leonel Ferreira, Mariana Comiran Belim e Sarah Sella Langer. Nenhum deles tinham pesquisas com a fosfoetanolamina, a conhecida "pílula do câncer”.
Arianne Albuquerque e Mariana Comiran Belim eram residentes de oncologia do Hospital do Câncer Uopeccan, em Cascavel (PR). Os nomes de ambas não estão associadas a qualquer pesquisa que envolva a fosfoetanolamina [confira o currículo Lattes de cada uma aqui e aqui]
José Roberto Leonel Ferreira era médico radiologista do Hospital Policlínica de Cascavel desde 1989 e professor aposentado, há três meses, da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste). Seu currículo Lattes também não apresenta pesquisa sobre a fosfoetanolamina. A médica Sarah Sella Langer era pediatra especialista em alergias, membro da Câmara Técnica de Alergia e Imunologia do CRM-PR e também não estava envolvida em estudos científicos sobre a 'pílula do câncer'. 
A fosfoetanolamina consta em três cadastros no sistema de patentes do Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI). Os nomes dos médicos identificados pelo CRM-PR não estão em nenhum desses cadastros [confira aqui, aqui e aqui].
Fosfoetanolamina não tem eficácia
Não há evidências científicas comprovadas de que a fosfoetanolamina seja eficaz contra o câncer. Em março de 2017, o então diretor geral do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp), Paulo Hoff, divulgou comunicado em que afirma que o Icesp não comprovou a eficiência da substância contra a doença durante um estudo clínico. "Como o tratamento com fosfoetanolamina não teve os resultados mínimos exigidos, os médicos decidiram não incluir novos pacientes na pesquisa", diz trecho do comunicado. 
Dos 72 pacientes tratados no estudo, divididos em 10 grupos de tipos de tumores (cabeça e pescoço, pulmão, mama, intestino, colo uterino, próstata, melanoma, pâncreas, estômago e fígado), somente um deles, do grupo de melanoma (tipo de câncer de pele), apresentou resposta parcial. Entretanto, o resultado não foi suficiente para comprovar a eficácia da substância.
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), em comunicado publicado em julho deste ano, voltou a reforçar que não há estudos clínicos capazes de comprovar a eficácia e segurança da fosfoetanolamina contra o câncer. Além disso, a substância não tem registro na agência e não deve ser usada nem como suplemento alimentar. 
A “pílula do câncer”, como ficou conhecida, foi criada por Gilberto Orivaldo Chierice, professor aposentado do Instituto de Química da USP, que faleceu em 2019. Apesar de não ter passado por testes clínicos que comprovem sua eficácia em humanos, a substância foi distribuída gratuitamente por 20 anos pelo professor com a promessa de que curaria o câncer.

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Nota: Este conteúdo faz parte do projeto Mídia e Democracia, produzido pela Escola de Comunicação, Mídia e Informação da Fundação Getulio Vargas (FGV ECMI) e a FGV Direito Rio em parceria com Democracy Reporting International e a Lupa. A iniciativa é financiada pela União Europeia.

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